O GLP-1 é uma incretina liberada principalmente pelas células L, localizadas no íleo e no cólon, em resposta à alimentação e a outros sinalizadores do próprio trato digestivo. Além de estimular a secreção de insulina de maneira glicose-dependente, também inibe a secreção de glucagon e o débito hepático de glicose, retarda o esvaziamento gástrico, provoca saciedade, reduz o apetite, levando a perda ponderal. O GLP-1 endógeno é rapidamente degradado pela enzima DPP-4. Daí o desenvolvimento de análogos resistentes à tal metabolização.
Os estudos iniciais em portadores de diabetes tipo 2 demonstraram elevada potência no controle glicêmico, além de proteção cardiovascular demonstrada em grandes estudos como o LEADER (liraglutida), SUSTAIN-6 (semaglutida) e REWIND (dulaglutida). Além do custo ainda elevado, a via de administração subcutânea também aparece como um limitante ao uso para parte dos pacientes.
Essa segunda limitação está prestes a cair. Em setembro de 2019, a semaglutida oral recebeu aprovação para tratamento do diabetes tipo 2 pelo FDA americano. Em outubro de 2020, a ANVISA emitiu parecer semelhante, estando o lançamento comercial previsto para o segundo trimestre de 2022.
O que já sabemos
A semaglutida oral vem com o nome comercial de RybelsusR em comprimidos de 3, 7 e 14mg para tomada única diária, em jejum. A medicação é de absorção gástrica, devendo ser ingerida com pequeno volume de água (<120ml), respeitando intervalo mínimo de 30 a 40 minutos para a refeição ou tomada de outra medicação. O tratamento deve iniciar com 3mg, progredindo para 7mg após 4 semanas. A dose de 14mg fica reservada aos casos em que se necessite de maior controle glicêmico.
O programa de ensaios clínicos PIONEER comparou o agente com o placebo e outras medicações, com resultados interessantes. A droga se mostrou bastante potente, com reduções absolutas de até 1,4% na HbA1c, resultado comparável a liraglutida 1,8mg, por exemplo. No quesito perda de peso, superou a lira no estudo PIONEER 4, alcançando redução média de 4,4kg. Ainda foi demonstrada segurança em pacientes com doença renal crônica e com doença cardiovascular prévia, porém sem redução dos desfechos (3PMACE) no PIONEER 6.
Os efeitos colaterais observados foram semelhantes aos já conhecidos com os outros medicamentos da classe, afetando principalmente o trato gastrointestinal, sendo náuseas o mais observado. O custo, provavelmente no mesmo patamar dos já conhecidos aGLP1 injetáveis, provavelmente vai se tornar o principal limitante na prescrição do agente.
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