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Terapia de reposição de testosterona e segurança cardiovascular

Escrito por Erik Trovao

Uma das maiores controvérsias relacionadas à terapia de reposição de testosterona em homens hipogonádicos está relacionada à sua segurança cardiovascular. Afinal, esta reposição poderia aumentar o risco cardiovascular ou o seu efeito é neutro?

Alguns estudos observacionais têm demonstrado aumento do número de eventos e mortalidade entre os usuários de testosterona, mas o desenho de tais estudos impedem uma conclusão definitiva. Além disso, sabemos do efeito da testosterona sobre o aumento do hematócrito, algo que poderia se relacionar com aumento de eventos tromboembólicos.

Já o TOM trial, publicado em 2010 no New England Journal of Medicine, avaliando 209 homens com 65 anos ou mais (média de 74 anos), demonstrou que o grupo que fez uso de testosterona em gel por 6 meses, quando comprado ao grupo placebo, teve aumento do risco de eventos adversos cardiovasculares.

Desta forma, o FDA determinou, em 2014, que os produtos à base de testosterona colocassem, em bula, um alerta sobre possível aumento do risco cardiovascular. Do mesmo modo, especialistas orientam que a reposição seja iniciada apenas naqueles pacientes que realmente apresentem sintomas importantes de hipogonadismo, pesando sempre o risco-benefício, com maior cautela, especialmente, naqueles homens com mais de 65 anos de idade e/ou com alto risco cardiovascular.

Não à toa, o último guideline da Endocrine Society sobre o tema, reforça que o diagnóstico de hipogonadismo não deve ser feito apenas com base nos níveis baixos de testosterona sérica, mas também na associação com sintomas específicos de hipogonadismo. Uma forma de desestimular a prescrição desnecessária de apresentações de testosterona.

Também, no guideline, é orientado cautela no início da reposição em homens idosos e sugere-se evitar a prescrição nos primeiros meses após um evento cardiovascular.

No entanto, é fato que a dúvida sobre o efeito da reposição de testosterona no risco cardiovascular permanece. Afinal, os estudos feitos até então apresentam limitações metodológicas e seus dados são insuficientes para uma conclusão definitiva. Recente metanálise, publicada agora em junho de 2022 no The Lancet Healthy Longevity, concluiu que a reposição em homens hipogonádicos não aumenta o risco cardiovascular.

Tal metanálise reuniu dados de 35 trials publicados entre 1992 e 2018, selecionando 17 deles para análise. Ao final, somou-se 3431 pacientes num seguimento médio de 9,5 meses. Comparando com placebo, não houve aumento do risco de morte ou de eventos cardiovasculares entre aqueles que fizeram uso da testosterona.

Entretanto, o tempo de seguimento avaliado na referida metanálise foi muito curto, de forma que seus resultados ainda não são conclusivos, especialmente sobre a segurança cardiovascular da reposição de testosterona a longo prazo.

Mas esta resposta parece estar mais perto do que longe de ser atingida através dos resultados do TRAVERSE trial, que está avaliando o efeito cardiovascular da testosterona por até 5 anos de acompanhamento. Seus dados, talvez sejam divulgados em 2023.

Esperamos, assim, que em pouco tempo possamos ter, finalmente, uma conclusão mais definitiva para esta dúvida que persegue os especialistas na hora de prescrever testosterona, especialmente para homens mais idosos. Sendo sempre importante enfatizar que todos os estudos citados avaliaram e estão avaliando homens com deficiência confirmada de testosterona, não podendo estas conclusões serem, de forma alguma, extrapoladas para homens eugonádicos, sem indicação de reposição.



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Sobre o autor

Erik Trovao

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