Embora já tenhamos um número considerável de estudos que avaliou a prevalência de deficiência de vitamina D no Brasil, a maioria deles se concentraram em adultos, havendo dados escassos em crianças e adolescentes. No entanto, considerando que os hábitos de vida atuais acabam levando nossas crianças e adolescentes a passarem mais tempo em ambientes internos ou a utilizar protetor solar, é importante conhecer os níveis de vitamina D nesta população.
Afinal, durante o período de crescimento e desenvolvimento, o metabolismo normal do cálcio é fundamental para manter um desenvolvimento esquelético adequado, impactando no pico de massa óssea atingido no final da segunda década de vida e influenciando no risco futuro de osteoporose.
Com o objetivo de avaliar a prevalência de deficiência de vitamina D em crianças e adolescentes no Brasil, foi realizado um estudo que incluiu 413.988 indivíduos entre 0 e 18 anos, cujos resultados foram publicados no Jornal de Pediatria da Sociedade Brasileira de Pediatria em março de 2024.
As dosagens de 25-hidroxivitamina D (25OHD) foram obtidas de forma retrospectiva a partir do banco de dados do Grupo Fleury, incluindo 6 cidades do Brasil, localizadas em diferentes latitudes: Recife, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre. Deficiência de vitamina D foi definida como níveis de 25OHD < 20 ng/ml e deficiência grave < 12 ng/ml.
A média de 25OHD na amostra foi de 29,2 ng/ml e a prevalência de deficiência de vitamina D foi de 12,5% e de deficiência grave de 0,8%, sendo maior em meninas em ambas as condições. Ao dividir os participantes por faixa etária, foi visto que a prevalência aumentou com a idade.
Naqueles com menos de 2 anos de idade, a prevalência foi baixa (4,5%), o que, provavelmente, é decorrente da suplementação rotineira de vitamina D nesta faixa etária no nosso país, de acordo com a recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria: 400 UI/dia até 2 anos de idade.
No subgrupo com 11 a 18 anos de idade, a prevalência de deficiência de vitamina D foi de 20,1% em meninas e de 16,8% em meninos. Deficiência grave ocorreu em1,5% e 1,3%, respectivamente.
Em relação às diferenças relacionadas à latitude, houve prevalência de deficiência de vitamina D maior em Curitiba (17,1%) e Porto Alegre (15,3%) do que em Recife (9,2%) e Salvador (6,9%). Conforme esperado, a prevalência de deficiência foi maior nos meses de inverno (julho e agosto): 20,5%. Nos meses de janeiro e fevereiro, a prevalência caiu para 5,5%.
Os autores destacam que, entre meninas adolescentes da região Sul, nos meses de julho e agosto (inverno), 36% apresentaram 25OHD < 20 e, destas, 5% tinham deficiência grave, o que representa 140 mil meninas.
A alta prevalência de deficiência de vitamina D em adolescentes mostrada neste estudo serve de alerta, uma vez que a fase da puberdade é essencial para um adequado desenvolvimento esquelético. Manter níveis suficientes de vitamina D nesta fase da vida (associado à adequada ingestão de cálcio) é, portanto, fundamental para prevenção da osteoporose.
Desta forma, os autores concluem que a deficiência de vitamina D foi alta especialmente em adolescentes e ressaltam a importância da suplementação mínima necessária de 400 a 600UI/dia para o grupo de crianças e adolescentes.