Sabemos que pré-diabetes importa pela possibilidade de progressão para diabetes e pela ocorrência de complicações ainda na faixa de pré diabetes, no entanto a história natural do pré-diabetes em população idosa não está muito bem caracterizada.
Estudo publicado na edição de fevereiro de 2021 no JAMA avaliou um grupo de > 3mil idosos (média de 75 anos), não diabéticos acompanhados ao longo de 6 anos, com avaliações semestrais com o objetivo de verificar a ocorrência de diabetes em indivíduos pré-diabéticos no início do estudo.
Os resultados foram os seguintes:
– 44% dos participantes tinham pré-diabetes baseado na HbA1C entre 5,7-6,4%,
– 59% tinham pré-diabetes baseado na glicemia de jejum alterada entre 100-125mg/dL,
– 73% dos idosos tinham um ou outro dos critérios anteriores de pré-diabetes
No entanto,
– Entre os idosos que tinham resultado de HbA1c entre 5,7-6,4%, apenas 9% progrediram para DM e 13% regressaram para normoglicemia e,
– Dos que tinham glicemia de jejum alterada (100-125mg/dl) apenas 8% progrediram para DM e 44% regrediram para normoglicemia.
Pode-se concluir que a prevalência de pré-diabetes nessa população idosa pelos critérios atuais foi bastante alta, mas a progressão ao longo de 6 anos para o desenvolvimento de DM propriamente dito foi muito pequena. A taxa de progressão para DM foi menor que a de normalização da glicemia ou de morte desses indivíduos.
Pessoalmente tiro mais algumas conclusões:
– se uma doença tem uma prevalência de 75% em determinada população provavelmente são os critérios adotados para tal doença que estão levando a um “overdiagnosis”. Assim, o estudo serve de partida para que possamos avaliar outros pontos de corte para pré diabetes na população > 75 anos, assim como já fazemos com hipotireoidismo subclíncio, tolerando valores mais altos para a idade.
– o “ overdiagnosis” pode levar também a um “overtreatment”, o que nessa população se torna especialmente perigoso pela possibilidade de polifarmácia e interações medicamentosas
E então, o que fazer nesse cenário?
1º: confirmar os valores alterados em mais de uma ocasião
2º: se alterados mesmo, reforçar ainda mais mudanças de estilo de vida (MEV) com foco na atividade física, que nessa população (> 60 anos) foi até mais eficaz em reverter o pré diabetes de acordo com o tradicional estudo DPP
3º: acompanhar a evolução dessa glicemia e intervir com medicamentos se houver claro aumento no segyimento apesar da MEV. Lembrar de escolher medicações adequadas ao perfil clínico daquele idoso.
Ref. : Risk of Progression to Diabetes Among Older Adults with Prediabetes Rooney et al. JAMA 2021