Nas últimas décadas, a endocrinologia tem exercido um papel de protagonismo no mundo científico com a publicação de inúmeros estudos de impacto especialmente nas áreas de diabetes e obesidade. E em 2023 não foi diferente. Abaixo, fizemos um resumos das principais publicações do primeiro semestre deste ano. Veja nossa retrospectiva 2023:
Janeiro
Logo no início de 2023 foi publicada uma análise post-hoc do estudo VITAL que demonstrou que o efeito da suplementação da vitamina D é atenuado pelo sobrepeso e a obesidade: níveis mais altos de IMC tiveram uma magnitude menor de aumento da 25-hidroxivitmina D.
Fevereiro
O estudo DINAMO foi publicado no The Lancet, avaliando o efeito da empagliflozina em jovens de 10 a 17 anos com DM2. Ao ser comparada com o grupo placebo, a droga mostrou redução significativa da HbA1c. O perfil de segurança foi semelhante ao de adultos com DM2.
Março
Também o The Lancet publicou, em março, os dados de um estudo de fase 2 que avaliou o efeito da semaglutida na dose de 2,4mg uma vez/semana em indivíduos com cirrose causada por doença hepática gordurosa metabólica. Infelizmente, não houve diferença com o placebo para o desfecho primário (melhora da fibrose hepática, sem piora da esteatohepatite). Mas houve redução das enzimas hepática e da esteatose hepática.
Abril
Foi a vez da New England publicar os dados do estudo CLEAR, um ensaio clínico randomizado que avaliou o efeito do ácido bempedóico versus placebo em indivíduos com intolerância à estatina. O desfecho primário comporto foi reduzido em 13%. Embora esta droga já fosse aprovada pelo FDA para tratamento da hipercolesterolemia em situações específicas, o CLEAR trouxe evidências de sua utilidade em um novo perfil de pacientes.
Ainda em abril, tivemos um vislumbre de um outro potencial tratamento para a hipercolesterolemia no futuro: um inibidor de PCSK9 oral. Foram publicados os dados de um estudo de fase 2 que mostraram que um peptídeo por via oral capaz de inibir a PCSK9 era tanto eficaz em reduzir os níveis de LDL-c quanto seguro, abrindo espaço para a realização de estudos de fase 3.
Maio
Em maio, tivemos a publicação dos dados do estudo GRADE no JAMA, um ensaio clínico randomizado que incluiu adultos com DM2 em uso de metformina e sem doença renal e comparou a adição de diferentes anti-diabéticos (insulina glargina, glimepirida, liraglutida e sitagliptina). Neste perfil de pacientes, a associação com qualquer uma destas classes foi equivalente em relação ao desenvolvimento ou progressão de doença renal em 5 anos.
Junho
Junho foi, sem dúvidas, o mês mais agitado no mundo da endocrinologia, graças às importantes publicações divulgadas no Congresso da American Diabetes Association. Entre estes, merecem destaque:
- Estudo de fase 2 publicado no NEJM que demonstrou eficácia do orforglipron no tratamento da obesidade.
- Estudo de fase 2 que comprovou a eficácia e a segurança do CagriSema (associação de cagrinlitida e semaglutida) em indiíduos com DM2.
- O SURMOUNT 2, ensaio clínico que demonstrou a eficácia da tirzeparida em reduzir o peso e a HbA1c de indivíduos com DM2; levando a uma perda de 14,5% do peso corporal e se tornando a droga com maior redução ponderal nesta população.
- O ONWARDS 1 foi o aguardado estudo com a icodeca, insulina de aplicação semanal, em indivíduos com DM2. Os resultados foram promissores, com a icodeca sendo superior à glargina no controle glicêmico.
- O ONWARDS 3 comparou a icodeca com a degludeca em indivíduos com DM2 e também se mostrou seuprior em relação ao controle glicêmico.
- O OASIS 1 foi o estudo que veio responder se a semaglutida oral também seria eficaz no tratamento da obesidade em indivíduos sem DM2. Na dose de 50mg/dia (mais alta do que a utilizada para tratamento do DM2), a droga se mostrou eficaz para perda de peso, atingindo uma perda de até 15,1% do peso inicial.
- O PIONEER PLUS teve a missão de estudar o efeito de doses mais altas de semaglutida oral (25 e 50mg/dia) em indivíduos com DM2. Uma proporção maior de pacientes conseguiram atingir uma meta de HbA1c < 7,0 quando as doses mais altas foram comparadas às doses habituais, assim como houve também maior perda de peso.
- Mas uma das maiores sensações do mês de junho foi a apresentação dos resultados de dois estudos de fase 2 com a retatrutida, um agonista triplo (GLP1/GIP/glucagon), que fez da droga aquela que mais conseguiu levar à perda de peso até hoje. Em indivíduos com DM2 e obesidade, a droga demonstrou eficácia no controle glicêmico, com 82% dos participantes atingindo uma HbA1c < 6,5. Em indivíduos com obesidade e sem DM2, a retatrutida levou a uma queda média de 24% do peso inicial. Vale ressaltar que precisamos ainda aguardar os resultados dos estudos de fase3.