Entre as medidas gerais que costumamos orientar em um indivíduo com osteopenia ou osteoporose, está o estímulo à atividade física. Afinal, parece haver uma relação direta entre exercício físico e massa óssea. Indivíduos sedentários, especialmente se mais velhos, parecem ter uma aceleração da perda de massa óssea. Por outro lado, quando estes mesmos indivíduos iniciam a prática de alguma atividade física, esta perda parece ser lentificada.
E inúmeros ensaios clínicos têm demonstrado um aumento real da densidade mineral óssea (DMO) em diferentes sítios avaliados pela densitometria. No entanto, metanálise publicada em 2020 avaliou 16 trials com um total de 1624 participantes e não encontrou qualquer benefício da atividade física sobre a DMO. Será que estávamos enganados ao acreditar que o exercício físico melhoraria a massa óssea?
Para tentar resolver esta controvérsia trazida pelos resultados conflitantes desta última metanálise, Hejazi K et al publicaram agora em 2022 os dados de uma nova revisão sistemática e metanálise, incluindo apenas ensaios clínicos randomizados que avaliaram o efeito do exercício físico sobre a DMO de mulheres na pós-menopausa.
Foram incluídos 53 ensaios clínicos, totalizando 2896 participantes (1613 no grupo de intervenção e 1253 no grupo controle). Entre estes, 5 estudos foram realizados no Brasil. Na maior parte dos estudos incluídos, os participantes realizaram treinamento de resistência ou exercício aeróbico (em 4 estudos, foi utilizada uma combinação de ambos). Outras modalidades utilizadas: vibração de corpo inteiro e caminhada.
Houve aumento significativo da DMO em coluna lombar, colo do fêmur e trocanter. Mas o mesmo não foi visto em fêmur total ou no corpo inteiro. Quando foi realizada análises de subgrupo de acordo com o tipo de exercício analisado, o resultado foi mais heterogêneo:
- Exercício de resistência: aumentou DMO em colo do fêmur e fêmur total.
- Exercício aeróbico: aumentou DMO em coluna
- Exercício combinado: aumentou DMO em coluna
Considerando que diferentes tipos de exercícios parecem influenciar de forma diferente o ganho de massa óssea, talvez o ideal seja combinar atividade aeróbica e exercício resistido, embora a limitação individual de cada indivíduo para cada tipo de exercício deva ser considerada. Em idosos com sarcopenia associada, atividades que levem ao ganho de massa muscular parecem ser o ideal.
Muitos mecanismos vêm sendo propostos para explicar o potencial benefício do exercício físico sobre a massa óssea: aumento da absorção intestinal de cálcio; melhora da vascularização do tecido ósseo; produção de miocinas com efeito benéfico sobre as células ósseas; redução da produção de esclerostina (potente inibidor da formação óssea); redução do RANKL (estimulador da reabsorção óssea).
Independente do mecanismo, cada vez temos mais evidências de que a atividade física é fundamental para a preservação da massa óssea ao longo da vida e para a recuperação da mesma em indivíduos idosos.
Faltam, no entanto, mais evidências para estabelecer o tipo de exercício ideal para cada indivíduo: com e sem osteoporose; com e sem fraturas; com e sem sarcopenia; com e sem comorbidades (como diabetes). Faltam também mais dados sobre o efeito da atividade física na microarquitetura e força ósseas e no risco de fraturas.