Já estão disponíveis as novas diretrizes KDIGO 2022 sobre manejo do diabetes mellitus em pacientes com doença renal crônica (DRC). A publicação trouxe atualizações importantes, sobretudo no que se refere à prescrição dos inibidores do cotransportador de sódio-glicose 2 (iSGLT2).
As novas diretrizes destacam os efeitos protetores renais e cardíacos dos iSGLT2 em pacientes com diabetes mellitus tipo 2 (DM2) e DRC. Por isso, recomendam o tratamento com tais fármacos em pacientes com DM2 e DRC, desde que apresentem taxa de filtração glomerular estimada (TFGe) ≥20 ml/min/1,73m2.
Percebemos então uma mudança no ponto de corte da TFGe para início dos iSGLT2. Tal atualização foi baseada nas várias linhas de evidência que demonstram que iniciar uma glifozina na faixa de TFGe de 20-29 ml/min/1,73m2 é seguro e benéfico. Os ensaios DAPA-CKD e SCORED, por exemplo, envolveram pacientes com DRC e TFGe tão baixa quanto 25-29 ml/min/1,73m2. Os estudos EMPEROR-Reduced e EMPEROR-Preserved, embora não tenham populações exclusivas de DRC, incluíram participantes com uma TFGe de até 20 ml/min/1,73m2 .
Vale lembrar que o estudo DAPA-CKD teve como critério de inclusão uma albuminúria ≥200 mg/g, enquanto os estudos EMPEROR exigiram um diagnóstico clínico de insuficiência cardíaca. Dessa forma, a evidência para iniciar um iSGLT2 na faixa de TFGe de 20-29 ml/min/1,73m2 é mais forte para pacientes com albuminúria ou insuficiência cardíaca. No entanto, dentro e entre os ensaios clínicos com iSGLT2, os benefícios foram aparentes em subgrupos definidos por TFGe, albuminúria e presença ou ausência de insuficiência cardíaca, e a preponderância dos dados sugere que as glifozinas são seguras e oferecem benefícios renais e cardiovasculares para pacientes com ou sem essas características específicas.
Quanto às doses dos iSGLT2 em pacientes com DRC, as diretrizes trazem as seguintes recomendações:
- Dapaglifozina: 10 mg/dia
- Empaglifozina 10mg/dia (com a possibilidade de aumentar para 25 mg/dia se necessário melhor controle glicêmico)
- Canaglifozina 100 mg/dia (a dose de 300 mg/dia não é recomendada para pacientes com DRC)
Percebemos então uma limitação cada vez menor no que se refere à TFGe mínima para início do tratamento com iSGLT2. Dessa forma, conseguiremos propor essa terapia para um número maior de pacientes, com impactos positivos sobre seus desfechos renais e cardiovasculares.
Referência:
KDIGO 2022 Clinical Practice Guideline for Diabetes Management in Chronic Kidney Disease (CKD)